No cenário empresarial europeu, a pressão para a conformidade com as diretivas e obrigações de relato da União Europeia é crescente, especialmente no que concerne aos critérios de sustentabilidade.
À medida que as grandes empresas se preparam para atender às exigências de sustentabilidade impostas pelas diretivas europeias e pelas obrigações de relato, com prazos cada vez mais próximos, as Pequenas e Médias Empresas (PME) não podem ficar à margem.
Em Portugal, onde as PME representam a espinha dorsal do tecido empresarial, é vital reconhecer o seu papel.
Segundo a Direção-Geral das Atividades Económicas, a contribuição das PME portuguesas, no valor acrescentado total, é de cerca de 67,4%, representando aproximadamente 76,2% do emprego total nacional. Indiretamente, as PME são chamadas a relatar determinadas métricas ESG (Ambiente, Social e Governança).
Na corrida para a sustentabilidade, não podemos deixar as PME entregues a si próprias. Portanto, a capacitação e a cooperação são veículos essenciais para a mudança de paradigma. Vejamos.
Inércia ou cooperação?
A inércia na adoção de práticas sustentáveis, muitas vezes decorrente de uma zona de conforto, pode levar a impactos negativos a longo prazo na sua reputação, eficiência operacional e competitividade global. Esta mesma pode resultar de vários fatores, tais como preocupações com os custos, falta de sensibilização ou resistência à mudança.
Para mitigar este risco e incentivar as empresas a atuar através de práticas mais sustentáveis, a cooperação é a chave. Todas as partes interessadas, incluindo governos, consumidores, investidores e organismos industriais, desempenham um papel crucial na necessidade de mudança conjunta e que enderece os inúmeros desafios partilhados.
Por meio de regulamentos claros, incentivos, aumento da sensibilização e promoção de uma cultura de sustentabilidade, as partes interessadas podem apoiar-se mutuamente ao longo das suas cadeias de valor a adotar medidas (mais) sustentáveis e a alterar significativamente os seus modelos económicos, transformando o seu negócio numa atividade hipocarbónica, geradora de impacto positivo, inclusiva ou mesmo nature positive.
Conhecimento como um motor para a mudança
Os princípios fundamentais da sustentabilidade nas suas múltiplas dimensões são desafiantes, pois continuam a adaptar-se, misturar-se e a evoluir ao longo do tempo.
Vejamos a Agenda 2030, os seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas e 169 metas, que representam por si só, uma oportunidade singular para fomentar um crescimento sustentável, regenerativo e inclusivo, os quais são imprescindíveis para enfrentar as inúmeras crises que vivenciamos: climática, de disparidades sociais e económicas, polarização da sociedade e acelerada perda de biodiversidade (e que tendencialmente se agravarão). Se observarmos, não é por acaso que começamos com pessoas (ODS 1 – Erradicar a pobreza – em todas as suas formas, em todos os lugares) e terminamos com pessoas (ODS 17 – Parcerias para a implementação dos objetivos).
Os ODS definem um conjunto de prioridades e aspirações globais para 2030 em áreas que afetam a qualidade de vida de todos os cidadãos do mundo e das gerações futuras.
As empresas, ao alinharem-se com os ODS e, incorporando os critérios ESG nas suas estratégias, podem identificar oportunidades de mercado, inovar e criar valor a longo prazo, e ainda gerir antecipadamente riscos e continuar a operar em sociedades prósperas atenuar.
Assim, é evidente que as empresas são fundamentais para a concretização e sucesso da Agenda 2030. Mas, importa fazer a ressalva que as organizações devem munir-se de conhecimento, seja ele por pesquisa, formação teórico-prática direcionada ou mesmo ao nível do ensino superior, e de colocarem em prática a sua transição para um modelo de negócio mais sustentável.
Através da colaboração, capacitação e compromisso, as PME podem superar os desafios e aproveitar as oportunidades para prosperar num mercado global cada vez mais exigente.
Neste sentido, as associações industriais, as câmaras de comércio e as agências governamentais também podem desempenhar um papel vital na facilitação desta cooperação, fornecendo orientação, formação e apoio às PME que iniciam ou robustecem o seu percurso de sustentabilidade.
A jornada rumo à sustentabilidade é uma narrativa contínua, repleta de desafios e oportunidades, que requer dedicação e um compromisso firme. Embora os desafios para as PME no domínio da sustentabilidade sejam inúmeros e reais, é necessário olhar para além do “dia-a-dia”.
Lurdes Guerra, Climate Change & Sustainability Svcs. Advisor
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