A investigação e desenvolvimento (I&D) são pilares fundamentais para o progresso tecnológico e económico de qualquer país. Em Portugal, os relatórios IPCTN, publicados pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), oferecem uma visão detalhada sobre as empresas que mais investiram em I&D nos respetivos anos analisados. Estes documentos não só revelam os números impressionantes de investimento, mas também destacam as tendências e mudanças significativas no panorama de I&D em Portugal.
Neste sentido, analisamos o relatório IPCTN22, publicado em fevereiro de 2024, que apresenta as empresas que mais investiram em I&D em 2022, e o relatório IPCTN23, publicado em março de 2025, que por sua vez se foca nas empresas que mais investiram em I&D em 2023. Ambos os relatórios são essenciais para compreender o estado atual e as tendências futuras do investimento em I&D em Portugal.
Investimento em I&D: IPCTN22 vs IPCTN23
Em 2022, a despesa total em I&D foi de 2.566 milhões de euros, representando 62% do total nacional e 1,06% do PIB. Em 2023, este valor aumentou para 2.844 milhões de euros, representando 63% do total nacional e mantendo-se estável em 1,06% do PIB. Este crescimento de aproximadamente 10,8% de um ano para o outro indica um aumento significativo no investimento empresarial em I&D, refletindo a importância crescente desta área para o desenvolvimento económico do país.
As Tecnologias de Informação, Energia, Distribuição e Indústria Farmacêutica foram os setores que mais investiram em I&D em 2022. No entanto, em 2023, os setores líderes foram Tecnologias de Informação, Distribuição e Energia. Esta mudança na hierarquia, com a indústria farmacêutica perdendo destaque para o setor da distribuição, pode ser um reflexo das mudanças nas prioridades empresariais e nas necessidades do mercado.
No que diz respeito à distribuição geográfica do investimento, esta mesma também sofreu alterações significativas. Em 2022, 50% da despesa concentrou-se nas regiões Norte e Grande Lisboa. Em 2023, 63% da despesa concentrou-se na Grande Lisboa e 52% na Península de Setúbal. Esta mudança indica uma diminuição na participação da Grande Lisboa e da Península de Setúbal na despesa total, enquanto o Norte manteve-se estável. Estas alterações podem ser atribuídas a diversos fatores, incluindo políticas regionais de incentivo ao investimento e mudanças nas estratégias empresariais.
A maioria das empresas que investiram em I&D são de grande porte, embora algumas PME também tenham se destacado. Em termos de fontes de financiamento, 89% do investimento em 2022 foi autofinanciado, 7% proveniente do Estado e 3% de fontes internacionais. Em 2023, o autofinanciamento reduziu ligeiramente para 87%, enquanto o financiamento estatal aumentou para 9%, mantendo-se as fontes internacionais em 3%. Este aumento no apoio estatal é um sinal positivo, indicando um maior envolvimento do governo no incentivo à inovação e desenvolvimento tecnológico.
Em 2022, 63% do investimento foi destinado ao desenvolvimento experimental, 34% à investigação aplicada e 3% à investigação fundamental. Em 2023, houve uma ligeira redução no desenvolvimento experimental para 61%, enquanto a investigação aplicada aumentou para 35%, mantendo-se a investigação fundamental em 3%. Esta mudança indica um maior foco na investigação aplicada, que tem um impacto direto e imediato na melhoria de produtos e processos empresariais. Os domínios científicos com maior concentração de investimento foram as Ciências da Engenharia e Tecnologias, seguidas pelas Ciências Médicas e Sociais. Esta tendência reflete a importância crescente das áreas tecnológicas e médicas para o desenvolvimento económico e social de Portugal.
Principais Conclusões e Implicações
A análise dos relatórios IPCTN22 e IPCTN23 revela assim que o investimento empresarial em I&D em Portugal continua a crescer, com um aumento significativo de 10,8% de 2022 para 2023.
No entanto, este crescimento vem acompanhado de mudanças na distribuição setorial e geográfica do investimento. A indústria farmacêutica perdeu destaque para o setor da distribuição, e a Grande Lisboa e a Península de Setúbal viram uma diminuição na sua participação na despesa total, enquanto o Norte manteve-se estável.
O aumento do financiamento estatal de 7% para 9% é um sinal positivo, indicando um maior apoio governamental à inovação. Além disso, o maior foco na investigação aplicada, que cresceu de 34% para 35%, sugere uma tendência de investimento em projetos com impacto direto e imediato na melhoria de produtos e processos empresariais.
Os relatórios IPCTN22 e IPCTN23 oferecem uma visão abrangente e detalhada sobre o estado do investimento em I&D em Portugal. O crescimento contínuo do investimento, aliado às mudanças nas prioridades setoriais e geográficas, indica um cenário dinâmico e em evolução. O aumento do apoio estatal e o foco na investigação aplicada são sinais positivos para o futuro da inovação em Portugal. É essencial que as empresas e o governo continuem a trabalhar juntos para fomentar um ambiente propício ao desenvolvimento tecnológico e científico, garantindo que Portugal se mantenha competitivo no cenário global.
Paulo Reis, Diretor-Geral FI Group Portugal