Encruzilhadas à escolha: Economia, Competitividade e Sustentabilidade


Afinal, por que é que uma política climática baseada na ciência é um imperativo para os líderes do futuro?

Vivemos tempos de incerteza, com encruzilhadas económicas inegáveis, onde a crise climática não é uma ameaça distante, mas uma força poderosa que molda e redesenha mercados e ações globais que vão obrigando a mudar cadeias de valor e a redefinir o que significa ser competitivo no mundo dos negócios.

Perante esta realidade, abraçar uma política climática alicerçada na ciência deixa de ser apenas uma questão de responsabilidade ambiental ou de cumprimento da “licença para operar” e, passa a ser um pilar estratégico fundamental para a resiliência, a inovação e o crescimento das empresas. A União Europeia, com o seu ambicioso Pacto Ecológico Europeu e a mais recente “Bússola para a Competitividade”, mostra-nos como a sustentabilidade e economia andam de mãos dadas, provando que a liderança climática e a competitividade global são, afinal, duas faces da mesma moeda.

Num artigo do Fórum Económico Mundial, intitulado “Why business leaders should advocate for science-aligned climate policy“, destaca-se a crescente urgência de integrar a ciência climática nas estratégias empresariais e políticas públicas. Aliás, o Fórum Económico Mundial tem sido consistente e claro: não fazer nada em relação ao clima terá um preço elevado e crescente, onde fenómenos meteorológicos extremos, interrupções nas cadeias de abastecimento e a escassez de recursos impactarão e danificarão bens, diminuirão a produtividade e farão disparar custos estruturais e de prémios de seguros. Assim, as organizações que não trabalhem num processo de mitigação e/ou adaptação climática, vão perder competitividade e resiliência num mundo onde a crise climática e da natureza está a redesenhar a vida como a conhecemos.

É aqui que a ciência se torna a nossa bússola indispensável. Uma política climática baseada em evidências científicas oferece às empresas um quadro sólido para a definição de metas de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) que estejam alinhadas com as últimas descobertas e com os objetivos globais, como o Acordo de Paris para limitar o aquecimento global a 1.5°C. Ao adotar estas metas, as empresas não só demonstram um compromisso sério com a sustentabilidade, como também se antecipam a futuras alterações legislativas, evitando coimas e garantindo que estão em conformidade (idealmente, trabalhando para lá do compliance).

Relembro que em 2019 a Comissão Europeia lançou o Pacto Ecológico Europeu (PEE), que traduz em ação a visão de estabelecer uma política climática clara e objetiva, baseada em evidências científicas e, assente numa estratégia de crescimento transformadora que ambiciona tornar a UE o primeiro continente neutro em carbono até 2050, separando o crescimento económico do uso de recursos. O PEE abrange praticamente todos os setores – energia, transportes, agricultura, indústria – e prevê um investimento colossal de pelo menos mil milhões de euros em investimentos sustentáveis até 2030, mobilizando tanto fundos públicos como privados. Este plano ambicioso mostra que, ao mais alto nível político, a transição verde não é vista como um fardo, mas como uma oportunidade de redefinir a prosperidade.

A par e passo, dado também os desafios geopolíticos que se fazem sentir, a Comissão Europeia lançou este ano a “Bússola para a Competitividade”, onde aprofunda a ideia de que a desejada transição é uma oportunidade económica (não um custo!), colocando a descarbonização como um dos três pilares essenciais para impulsionar a competitividade da Europa, a par da inovação e da segurança. Reconhece ainda que a transição para uma economia descarbonizada deve ser “amiga da competitividade e tecnologicamente neutra”, destacando ainda a necessidade de reduzir os custos e a volatilidade dos preços da energia, mudando para fontes mais limpas. A simplificação das regras, o aproveitamento máximo dos benefícios da escala do Mercado Único e o estímulo às competências e empregos de qualidade são itens-chave que se adequam à agenda climática, demonstrando uma abordagem integradora para uma competitividade verdadeiramente “verde”.

Para os líderes empresariais, a união destas perspetivas aponta para uma direção clara: economia e sustentabilidade são indissociáveis. Por um lado, adotar uma política climática baseada na ciência significa mitigar riscos financeiros e operacionais crescentes, trabalhar em mecanismos de adaptação e, por outro lado, avaliar a exposição ao risco climático apoia a diversificação das cadeias de abastecimento e o investimento em infraestruturas resilientes, consubstanciando-se como medidas essenciais de gestão de risco. Claro que, a “cereja no topo do bolo” são as oportunidades significativas para a inovação e a diferenciação organizacionais, o desenvolvimento de produtos e serviços mais sustentáveis, adotação de modelos de negócio circulares e otimização da eficiência energética, onde se reduzem custos, como também se abrem novos mercados e reforçam a fidelização do cliente. A pesquisa citada pelo Fórum Económico Mundial, que indica que os investidores acreditam haver “muito dinheiro a ser ganho na transição para a energia limpa”, é uma prova clara desta oportunidade.

Por fim, importa salientar que a colaboração surge como um fator crítico. A complexidade dos desafios climáticos exige parcerias entre setores, governos e a sociedade civil. Como o Fórum Económico Mundial sublinha, as empresas devem “falar abertamente e construir alianças positivas com governos e a sociedade civil para decisões climáticas progressivas”. Incluindo, defender políticas públicas que incentivem a inovação verde, como subsídios para novas tecnologias e quadros regulatórios claros que proporcionem previsibilidade e segurança para o investimento. O Pacto Ecológico Europeu e a Bússula para a Competividade ilustram o empenho da UE em criar um ecossistema favorável a esta transição, simplificando a burocracia e mobilizando financiamento para as empresas que abraçam a sustentabilidade, promovendo uma solução holística para a encruzilhada onde nos encontramos e, permitindo também, desenvolver os líderes do futuro.

Em suma, a transição para uma economia de baixo carbono, impulsionada pela ciência, não é apenas um imperativo emotivo ou ambiental, não é um discurso de quão verde deve ser um produto ou serviço; é uma estratégia de negócios inteligentemente calculada. Os líderes empresariais que a reconhecem e agem em conformidade não só protegerão os seus ativos e a sua reputação, como também se posicionarão na vanguarda da próxima onda de crescimento económico, descobrindo novas fontes de valor e garantindo uma competitividade duradoura num mundo em constante e rápida mudança. Ignorar a ciência climática é, cada vez mais, uma decisão de negócios insustentável.

Lurdes Guerra, Senior Sustainability Consultant


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