Colaboração entre setores: Como a medicina e os cuidados de saúde se cruzam tecnologicamente


Nos últimos anos, a interseção entre a tecnologia, a medicina e os cuidados de saúde criou um ambiente propício a inovações que transformam a forma como gerimos a nossa saúde e interagimos com os serviços médicos.

Ao longo do tempo, o setor da saúde tem vindo a incorporar progressivamente os avanços tecnológicos, aplicando-os na prática clínica e operacional. Esta evolução deu origem a uma estratégia eficaz conhecida como colaboração intersetorial, onde diferentes áreas se unem para partilhar conhecimento, experiência e tecnologia. Desta sinergia emergem dois segmentos distintos: HealthTech e MedTech.

O que significa intersetorialidade?

Em muitos casos, uma solução inovadora desenvolvida num setor pode ser aplicada com eficácia para responder aos desafios de outro. Esta é precisamente a essência da abordagem intersetorial: uma estratégia que promove a exploração de soluções híbridas, incentivando a colaboração entre empresas de diferentes áreas.

Ao aproveitar conhecimentos e tecnologias específicos de diversos domínios, esta abordagem visa impulsionar a inovação, acelerar o crescimento e descobrir soluções personalizadas e versáteis. Estas colaborações criam oportunidades mutuamente benéficas, gerando valor para todas as partes envolvidas e ultrapassando os limites do que é considerado possível nos respetivos setores.

MedTech e HealthTech

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os cuidados de saúde podem ser definidos como “a aplicação de conhecimentos e competências organizados sob a forma de dispositivos, medicamentos, vacinas, procedimentos e sistemas desenvolvidos para resolver problemas de saúde e melhorar a qualidade de vida”.

Apesar dos termos HealthTech e MedTech serem frequentemente utilizados como sinónimos, têm finalidades distintas no ecossistema dos cuidados de saúde.

As soluções HealthTech centram-se na utilização da tecnologia para melhorar a experiência global dos cuidados de saúde prestados aos utentes. Incluem inovações como plataformas de telemedicina mais eficientes, aplicações móveis de saúde e ferramentas avançadas de análise de dados, que permitem aos próprios pacientes monitorizar a sua saúde em tempo real. Desta forma, promovem uma participação mais ativa e informada no seu percurso de cuidados.

Por outro lado, as soluções MedTech centram-se em avanços no tratamento médico e nos processos de diagnóstico. Isto inclui melhorias na eficiência e precisão dos diagnósticos, bem como a conceção e o desenvolvimento de dispositivos médicos de última geração, ferramentas cirúrgicas e sistemas de monitorização de doentes. As inovações MedTech destinam-se especialmente aos profissionais de saúde, fornecendo-lhes as ferramentas necessárias para um diagnóstico e tratamento eficazes dos utentes.

Assim, é possível estabelecer-se uma distinção simplificada: a HealthTech dá prioridade à criação de ferramentas e sistemas que melhorem a experiência do paciente e apoiem o envolvimento do consumidor na gestão da sua própria saúde, enquanto a MedTech centra-se no desenvolvimento e aplicação de tecnologias destinadas a gerir os cuidados de saúde e a melhorar as capacidades de diagnóstico.

Exemplos de tecnologias no setor da saúde e respetivas utilizações

Estabelecidas estas diferenças, podemos agora citar alguns exemplos que ilustram o impacto de várias tecnologias no setor da saúde que têm afetado – e revolucionado – as práticas médicas e o quotidiano geral dos pacientes em todo o mundo:

1. Neurotecnologia

A neurotecnologia já está presente na medicina há algum tempo, mas continua a evoluir de forma surpreendente. Engloba dispositivos implantáveis e externos, abrangendo todas as tecnologias concebidas para compreender, monitorizar e interagir com as funções cerebrais. Com o apoio destas soluções, é possível visualizar a atividade do cérebro humano, bem como controlar, reparar ou potenciar o seu funcionamento.

Os componentes da neurotecnologia incluem computadores, elétrodos e outros dispositivos capazes de interpretar impulsos elétricos cerebrais. Atualmente, esta tecnologia é aplicada em diversos contextos, tais como:

  • Imagiologia cerebral – captação de campos magnéticos gerados pela atividade elétrica do cérebro, permitindo uma visualização detalhada da sua dinâmica;
  • Neuroestimulação – ativação de áreas específicas do cérebro e do sistema nervoso com o objetivo de modular ou restaurar funções neurológicas;
  • Neurodispositivos – equipamentos utilizados para monitorizar e regular a atividade cerebral, frequentemente através de implantes.

2. Telemedicina

A telemedicina tem registado um crescimento constante nos últimos anos, sendo atualmente adotada por muitos sistemas de saúde. Esta prática traz benefícios tanto para os utentes como para os profissionais de saúde. Para os utentes, representa uma solução cómoda, facilitando o acesso aos cuidados, reduzindo custos e evitando deslocações, bem como a necessidade de faltar ao trabalho para consultas presenciais. Para os profissionais, a telemedicina permite uma gestão mais eficiente do tempo, reduz os custos operacionais e limita a exposição a agentes patogénicos, possibilitando ainda o acompanhamento de um maior número de utentes com maior flexibilidade.

3. Tecnologia vestível

A tecnologia vestível, frequentemente designada por wearable tech, abrange uma vasta gama de dispositivos concebidos para monitorizar diversos parâmetros de saúde. Entre as funcionalidades mais comuns encontram-se a monitorização do ritmo cardíaco em tempo real, a análise dos padrões de sono para avaliar a sua qualidade, a medição da pressão arterial e o acompanhamento da atividade física, como o número de passos dados ou as calorias queimadas.

Para além disso, muitos destes dispositivos integram funcionalidades adicionais, como localização por GPS para atividades ao ar livre, ferramentas de gestão do stress e lembretes para hidratação e movimento. Com o crescente foco na saúde e bem-estar, estas tecnologias deixaram de ser meras inovações para se tornarem ferramentas essenciais no dia a dia de muitos utilizadores, ajudando-os a alcançar os seus objetivos de fitness e a manter um estilo de vida mais saudável e equilibrado.

4. Robótica na cirurgia

Estas tecnologias avançadas têm vindo a transformar a prática cirúrgica, permitindo aos profissionais de saúde realizar procedimentos minimamente invasivos com uma precisão e agilidade notáveis. Não só simplificam intervenções de menor complexidade, como também viabilizam cirurgias mais exigentes, contribuindo para uma maior eficácia clínica e melhores resultados para os pacientes. Ao oferecerem uma “mão firme” e um campo visual ampliado, estas soluções permitem aos cirurgiões navegar com confiança e perícia por estruturas anatómicas complexas.

À medida que estas tecnologias continuam a evoluir, a colaboração intersectorial torna-se cada vez mais essencial. Esta sinergia não só impulsiona a inovação, como também promove um ecossistema de cuidados de saúde mais eficiente, personalizado e centrado no utente. O sucesso desta abordagem colaborativa poderá abrir caminho para um futuro em que os cuidados de saúde sejam mais acessíveis, eficazes e adaptados às necessidades individuais — promovendo, assim, um bem-estar duradouro para todos.

Principais conclusões

  • A colaboração intersetorial constitui uma estratégia que promove o intercâmbio de conhecimentos e tecnologias entre diferentes áreas, permitindo a exploração de soluções híbridas capazes de responder a desafios transversais a vários setores.
  • No contexto da saúde, exemplos marcantes dessa transformação incluem a neurotecnologia, a telemedicina, a tecnologia vestível e a robótica cirúrgica — cada uma contribuindo de forma distinta para a melhoria dos cuidados prestados e da sua gestão.
  • Ao fomentar esta colaboração, é possível construir um sistema de saúde mais acessível, eficiente e centrado no utente. Por um lado, os pacientes ganham autonomia e envolvimento ativo na gestão da sua saúde; por outro, os profissionais de saúde passam a dispor de ferramentas mais eficazes para diagnóstico e tratamento.
  • A sinergia entre tecnologia e cuidados de saúde aponta para um futuro onde os serviços são mais personalizados, adaptados às necessidades individuais e orientados para o bem-estar duradouro de todos.

Sabrina Soares, Marketing Assistant


Compartilhe este artigo com a sua rede de contactos. Explore o nosso arquivo para encontrar conteúdos relacionados e relevantes.