Nos últimos anos, a crise climática deixou de ser uma preocupação distante para se tornar uma realidade tangível, com impactos severos sobre economias, cadeias de valor e pessoas. Assim, à medida que navegamos num mundo cada vez mais afetado pelas alterações climáticas, um dos mais recentes relatórios do Fórum Económico Mundial, intitulado “The Cost of Inaction: A CEO Guide to Navigating Climate Risk”, constitui-se como uma chamada de atenção para os líderes empresariais. Este menciona que os danos relacionados com o clima excedem os 3,6 mil milhões de dólares desde 2000 e as projeções indicam uma potencial queda de 22% no PIB global até 2100, se continuarmos a trajetória atual.
O relatório destaca a realidade alarmante de que a inação climática não é apenas uma questão ambiental, mas uma profunda ameaça económica. Os custos crescentes associados a fenómenos meteorológicos extremos, a par com as implicações económicas da incapacidade de transição para uma economia com baixas emissões de carbono, são surpreendentes. As empresas que ignoram estes riscos podem ver-se confrontadas com uma perda de 5% a 25% do seu EBITDA até 2050.
Ao analisarmos o contexto económico-social atual, a pressão para obter resultados rápidos é silenciosa, mas existente, que leva muitas vezes as organizações a dar prioridade a práticas que prometem lucros imediatos, independentemente dos riscos, impactes ou oportunidades numa perspetiva ESG, a que possam estar sujeitas. Investir na resiliência climática não é apenas uma obrigação moral ou de conformidade, é uma estratégia financeira sólida. Os riscos climáticos, tal como os impactes e as oportunidades, devem ser vistos como parte integrante da estratégia empresarial e não como uma questão de mero reporte. O imperativo financeiro da ação é real e deve ser implementado. Mas como? A publicação dá orientações concretas, um Guia do CEO para líderes climáticos, onde se descrevem os passos para a integração dos riscos climáticos nas estratégias empresariais. A saber:
- Efetuar avaliações exaustivas dos riscos climáticos: medir os riscos físicos e de transição e identificar oportunidades relacionadas com o clima
- Gerir os riscos nas atuais do negócio: investir em estratégias de adaptação e resiliência para mitigar os riscos
- Dinamizar modelos de negócio para desbloquear oportunidades: reformular os portefólios para adotar práticas e tecnologias sustentáveis
- Monitorizar os riscos e comunicar o progresso: integrar a monitorização dos riscos climáticos nas operações comerciais e garantir a transparência dos relatórios às partes interessadas.
- Melhorar a governação dos riscos climáticos: estabelecer estruturas de governação que priorizem a gestão do risco climático a todos os níveis da organização
- Integrar o risco climático no plano de negócio: fomentar uma cultura de consciencialização climática e incorporar considerações de risco em todos os processos de tomada de decisão
Muitos líderes empresariais ainda encaram a sustentabilidade como uma obrigação moral ou um custo inevitável, quando, na verdade, é uma decisão estratégica. Incorporar a resiliência climática na gestão organizacional não protege apenas os ativos da empresa, mas também cria oportunidades de negócio, fortalece a relação com investidores, melhora a retenção de talentos, estabelece ainda uma melhor relação com as suas partes interessadas e viabiliza a proteção de pessoas e capital natural.
Ao efetuarem avaliações exaustivas dos riscos climáticos para compreender os potenciais impactos nas suas operações podem investir simultaneamente em estratégias de adaptação que aumentem a sua resiliência. Importa referir que a transição para práticas sustentáveis não só atenua os riscos a que os negócios estão expostos, como também abre oportunidades de crescimento significativas e necessárias para uma transição económica mais responsável pela integração das considerações climáticas em todos os aspetos da tomada de decisões e ao promover uma cultura de sustentabilidade: as organizações podem liderar o processo em direção a um futuro mais resiliente e próspero.
O relatório do WEF é claro: o custo de não agir supera em muito o investimento necessário para a tão desejada e necessária transição. As organizações que ignoram esta realidade arriscam ficar para trás, enquanto aquelas que lideram a mudança estarão bem posicionadas para prosperar num mundo cada vez mais sustentável.
A questão já não é se devemos agir, mas quando. E a resposta é inequívoca: o momento é agora.
Lurdes Guerra, Senior Sustainability Consultant
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