A Jornada das PME rumo à Sustentabilidade: Transformando Desafios em Oportunidades


Em Portugal é vital reconhecer o papel das PME que representam a espinha dorsal do tecido empresarial no país. Segundo o Observatório dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, 95% das grandes empresas e 77,7% das PME consideram a sustentabilidade como uma oportunidade estratégica.

As empresas demonstram forte consciencialização relativamente à relevância da sustentabilidade, mas sentem alguma dificuldade em traduzir a sua integração em ativos tangíveis e passíveis de obter a curto-médio prazo.

Os recursos limitados, ora de mão de obra, ora financeiramente, constituem frequentemente uma barreira significativa que dificulta a recolha, análise e comunicação eficaz de dados relevantes. Além disso, a complexidade dos quadros e normas de sustentabilidade pode ser esmagadora para as empresas mais pequenas. Deste modo, é possível identificar inúmeros desafios e oportunidades na integração deste conceito nos atuais modelos de negócio.

Ainda assim, não é razão para discursos derrotistas. Vejamos porquê.

Sustentabilidade: Mais do que uma obrigação moral

É necessário compreender que a sustentabilidade não deve ser apenas uma obrigação moral para as empresas. Deve ser encarada como um imperativo estratégico para gerar lucro e sucesso a longo prazo.

Ao integrar práticas sustentáveis, as empresas podem impulsionar a inovação de produtos, processos e serviços, melhorar a reputação da marca e a da sua imagem, satisfazer as necessidades e expectativas das partes interessadas, cumprir requisitos diversificados, reduzir custos operacionais e resíduos gerados, aceder a novos mercados, entre outros.

A adoção da sustentabilidade como um imperativo estratégico fundamental não só se alinha com as expectativas da sociedade, como também assegura uma vantagem competitiva num cenário de mercado em rápida evolução e caracterizado por um ambiente VUCA (em constante mudança e em contexto incerto).

Importa salientar que um aspeto fundamental no qual a sustentabilidade contribui para a rentabilidade é através da poupança de custos. Ao reduzir o consumo de energia, otimizar a utilização de recursos e minimizar a produção de resíduos, as empresas podem diminuir significativamente as suas despesas operacionais.

Segundo o Fórum Económico Mundial, as empresas que gerem e planeiam ativamente os riscos relacionados com o clima podem potencialmente obter poupanças de 2,1 biliões de dólares até 2030, demonstrando um impacto financeiro tangível das iniciativas de sustentabilidade.

Vantagem competitiva e acesso a financiamento

As empresas podem melhorar o seu acesso a oportunidades de financiamento favoráveis nos bancos, demonstrando um forte (e honesto) empenho no que concerne a práticas sustentáveis.

Assim, a divulgação transparente e abrangente de informações ESG permite que os bancos avaliem com exatidão o desempenho de sustentabilidade da empresa e compreendam os seus impactos ambientais, iniciativas sociais e práticas de governação, até como uma forma de inspiração e de confiança para os próprios investidores.

Ao incorporar práticas sustentáveis nas suas operações, as empresas podem desbloquear uma série de benefícios financeiros, enquanto cumprem as suas responsabilidades éticas.

A par, importa salientar que a integração de fatores ESG na estratégia empresarial e nos seus processos de tomada de decisão demonstram uma abordagem proativa relativamente à sustentabilidade e como resposta à crescente pressão dos investidores.

Desta forma, o alinhamento das operações comerciais com os princípios ESG, a obtenção de classificações ESG favoráveis de agências de renome pode validar os esforços de sustentabilidade da empresa, a utilização de obrigações verdes (empréstimos ligados à sustentabilidade ou outros produtos financeiros especializados concebidos para iniciativas centradas em ESG) podem, de forma até iterativa, consubstanciar-se como impulsionadores da atração dos bancos e outros investidores no apoio a empresas ambiental e socialmente responsáveis.

Resiliência, capitalizar oportunidades e cooperar

As PME, enquanto principais contribuintes para a economia global, desempenham um papel fundamental na condução de práticas sustentáveis e na promoção de impactos ESG positivos.

Não se pode ignorar a necessidade premente de as PME participarem não só na integração das práticas de sustentabilidade nos seus atuais modelos de negócio, como também na preparação de relatórios de sustentabilidade.

As vantagens para medir e divulgar o seu desempenho ESG são inúmeras, as mais imediatas consistem na melhoria da reputação e credibilidade, como também na atração de consumidores e investidores socialmente conscientes.

Não obstante, é necessário compreender que a jornada de sustentabilidade, muito própria de cada empresa, é uma redação narrativa e descritiva, e não somente um breve verso.

Deve compreender-se a importância de ser resiliente na definição de objetivos, nas metas alcançáveis e no próprio percurso, compreendendo que estamos num momento único de capitalizar oportunidades, face aos inúmeros desafios atuais e futuros.

Torna-se necessário olhar para além do “dia-a-dia” e procurar superar os obstáculos através da capacitação, da cooperação, da inovação e de um compromisso partilhado para com a sustentabilidade.

Só deste modo as PME conseguirão posicionar-se como líderes em práticas empresariais responsáveis, face a decisões empresariais inteligentes que podem abrir caminho para a rentabilidade e o sucesso a longo prazo e impulsionar uma mudança positiva (tão desejada) no mercado global.

Lurdes Brandão Guerra, Climate Change & Sustainability Svcs. Advisor


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