A competitividade da Europa depende da sua capacidade de integrar a sustentabilidade como eixo central da estratégia económica.
A Comissão Europeia confiou a Mario Draghi a missão de repensar a competitividade europeia face aos desafios geopolíticos e tecnológicos. O relatório, apresentado em 2024, traça um diagnóstico claro da crescente distância entre a União Europeia, os Estados Unidos e a China em áreas como inovação, produtividade e investimento.
O documento identifica três prioridades fundamentais:
- Colmatar o défice de inovação face aos principais concorrentes globais;
- Alinhar a agenda de descarbonização com os objetivos de competitividade;
- Reduzir a dependência europeia de países terceiros no acesso a recursos e tecnologias críticas.
Para atingir estes objetivos, propõe-se um investimento anual entre 750 e 800 mil milhões de euros (equivalente a 4–5% do PIB da UE), centrado numa política industrial comum, numa transição energética competitiva e numa maior autonomia estratégica. Esta abordagem visa garantir à Europa um papel relevante numa economia global em rápida transformação.
O relatório aponta ainda vários obstáculos à resiliência económica europeia, com destaque para o excesso de regulamentação, especialmente no cumprimento das normas ambientais, sociais e de governação (ESG). A simplificação destes quadros é considerada essencial para fomentar a inovação sem comprometer o crescimento económico.
Intitulado “The Future of European Competitiveness”, o relatório propõe uma reconfiguração profunda do modelo económico europeu. Entre as recomendações, destacam-se o aprofundamento do mercado único, o incentivo ao investimento em tecnologias verdes e críticas, e a simplificação do acesso ao financiamento, nomeadamente através de dívida europeia conjunta.
A sustentabilidade é apresentada não apenas como um imperativo ético, moral ou ambiental, mas como um eixo estratégico para relançar a competitividade da UE num contexto de transição energética, pressão geopolítica e transformação tecnológica. O relatório reforça que sustentabilidade e competitividade não são conceitos opostos, mas sim complementares.
Apesar de funcionar como um guia estratégico, o plano enfrenta desafios significativos: divergências entre Estados-membros, ausência de mecanismos robustos de participação cidadã e uma ambição climática ainda tímida. Falta também garantir que os investimentos sejam orientados para metas climáticas ambiciosas, em linha com o Acordo de Paris, e não dispersos em iniciativas economicamente reativas.
O futuro da Europa dependerá da sua capacidade de transformar a transição verde numa vantagem estratégica, assegurando coerência regulatória, equidade territorial e compromisso político com uma economia verdadeiramente sustentável. O reposicionamento da UE no cenário global exige a resolução de ineficiências regulamentares, investimento em setores-chave e maior alinhamento entre iniciativas públicas e privadas.
Sem vontade política real, justiça territorial e compromisso democrático, este plano corre o risco de se tornar apenas mais um documento ambicioso a ganhar pó nas gavetas de Bruxelas.