O aumento da população humana na generalidade e a ascensão da classe média nas economias emergentes (previsão de 4.8 mil milhões de pessoas em 2030, mais 1.3 mil milhões face a 2023), está a provocar um aumento e aceleração dos modelos de negócio dirigidos a este público que se encontra na “base da pirâmide de rendimentos”, moldando inevitavelmente os sistemas de produção globais. Assim, é de simples entendimento que os produtos e a forma como os utilizamos, num modelo económico tipicamente linear podem ter um impacte significativo no ambiente, apresentando-se, por conseguinte, como uma das principais causas das alterações climáticas e da poluição.
Importa referir que a forma como nossa economia opera contribui para a destruição do capital natural do qual depende, sendo nos dias que correm possível de observar esse mesmo efeito: eventos climáticos extremos e com maior frequência e severidade de ocorrência, solos cada vez mais degradados, oceanos com um nível crescente de poluição, perda de biodiversidade, escassez de água doce, entre outros.
Assim, as políticas comunitárias têm evoluído e aumentando na sua complexidade e exigência como forma de responder aos desafios crescentes nesta matéria. O Regulamento relativo à conceção ecológica, ou ecodesign, dos produtos sustentáveis (ESPR – Ecodesign for Sustainable Products Regulation, em português, Regulamento relativo à conceção ecológica dos produtos sustentáveis), que entrou em vigor em 18 de julho de 2024, é a peça central da abordagem da Comissão Europeia a produtos mais sustentáveis e circulares do ponto de vista ambiental. A inovação sustentável pode e deve ocorrer, de um ponto de vista ambiental pela aplicação do regulamento acima mencionado e, por outro lado, pelo apoio financeiro a empresas, no caso concreto da aplicação do Sistema de Incentivos Fiscais à I&D Empresarial (vulgarmente conhecido como SIFIDE), através do Ecodesign.
Como é que as empresas podem tirar partido desta sinergia para potenciar os seus projetos de inovação e sustentabilidade?
Vamos explorar.
O que é o Ecodesign ou Conceção Ecológica?
Segundo a ESPR, a “Conceção ecológica”, compreende-se como a integração de considerações de sustentabilidade ambiental nas características de um produto e nos processos que decorrem ao longo de toda a cadeia de valor do produto. Ou seja, entende-se como uma metodologia que integra de forma sistemática considerações ambientais no processo de design de produtos (entendidos como bens e serviços). O principal objetivo do ecodesign é desenvolver produtos que contribuem para a sustentabilidade, através da redução do seu impacte ambiental ao longo do ciclo de vida, sem descurar de outros requisitos como a funcionalidade, a qualidade, a segurança, custo, entre outros. As considerações de sustentabilidade ambiental podem compreender, não se circunscrevendo, a:
- Maior eficiência de recursos: redução do consumo de matérias-primas e/ou energia;
- Redução do impacte ambiental: seleção de materiais e aposta na inovação e desenvolvimento de alternativas com melhor desempenho ambiental comprovado;
- Prolongamento do ciclo de vida: desenvolvimento de produtos duráveis, desmanteláveis, de fácil manutenção e/ou reparação, compreendendo um período de utilização mais longo;
- Maior consciencialização na forma como se produz e consume: fomentando a reutilização dos produtos, a sua remanufatura, reparação ou recondicionamento, menor variedade de materiais, disponibilização de rótulos, etiquetas e manuais informativos ou mesmo na melhoria do processo de reciclagem (ou integrando conteúdo reciclado). A par, trazendo maior rastreabilidade e transparência ao longo do ciclo de vida do produto.
Estima-se que mais de 80% dos impactes ambientais relacionados com o produto são determinados na fase de design, pelo que a conceção ecológica é uma abordagem muito promissora para o consumo e produção sustentáveis.
A ESPR faz parte do Plano de Ação para a Economia Circular, no âmbito do Pacto Ecológico Europeu e, ao introduzir medidas que abordam o impacte ambiental dos produtos ao longo de todo o ciclo de vida, apoia os esforços da UE para dissociar o crescimento económico da utilização de recursos, reduzindo a pressão ambiental e apoiando simultaneamente a inovação na conceção de produtos sustentáveis.
Como é que o SIFIDE apoia projetos de Ecodesign?
O SIFIDE é um instrumento financeiro que incentiva a realização de atividades de investigação e desenvolvimento (I&D) nas empresas através da recuperação de até 82,5% das despesas ocorridas em projetos deste âmbito. Neste sentido, projetos de Ecodesign podem ser elegíveis para este incentivo, dado que promovem inovações que impactam positivamente a eficiência de recursos e reduzem a pegada ambiental. De referir que projetos que apresentem a tipologia de “Conceção Ecológica do Produto”, têm as despesas de I&D que lhe são associadas majoradas em 20%.
Para que um projeto de Ecodesign seja considerado no âmbito do SIFIDE, é essencial que a empresa:
- Comprove o caráter inovador do projeto, evidenciando melhorias em relação a soluções tradicionais
- Demonstre a aplicação de metodologias de I&D no desenvolvimento do produto
- Apresente resultados mensuráveis em termos de eficiência ambiental e económica
Benefícios para as Empresas
A integração do Ecodesign/Conceção Ecológica com o SIFIDE permite às empresas, além de majorar as despesas de I&D apresentadas, obter vantagens competitivas significativas, nomeadamente:
- Redução de custos: o uso eficiente de recursos e a eliminação de componentes que não sejam estritamente necessários resulta em poupanças a curto-médio prazo;
- Redução do impacte ambiental: através do consumo de materiais, energia e água (ou seja, as entradas) e com a geração de resíduos e emissões (ou seja, as saídas indesejadas);
- Melhoria do desempenho do produto: aumento da qualidade do produto, promovendo a inovação e desenvolvimento, não descurando dos requisitos de cliente;
- Diferenciação no mercado: os produtos sustentáveis têm, tendencialmente, maior apelo junto dos consumidores conscientes;
- Reforço de reputação: empresas melhoram a sua imagem e a dos seus produtos;
- Acesso a incentivos fiscais: as despesas em I&D podem ser deduzidas do IRC, reduzindo a carga tributária;
- Conformidade com regulamentação: as empresas que adotam práticas sustentáveis estão mais preparadas para cumprir exigências atuais e futuras.
Exemplos de Sucesso
Empresas que já adotaram o Ecodesign com apoio do SIFIDE reportam ganhos significativos, como a melhoria da eficiência energética em processos produtivos e a criação de produtos com maior valor percebido pelos clientes.
Na FI Group, apoiamos diversas organizações na estruturação dos seus projetos de Ecodesign e na submissão ao SIFIDE, assegurando que cada etapa cumpre os requisitos necessários para maximizar os benefícios fiscais.
Passos para Implementar Ecodesign na sua Empresa
- Realize uma análise do ciclo de vida (ACV) para identificar pontos de melhoria;
- Forme equipas multidisciplinares que integrem conhecimentos técnicos, ambientais e de mercado;
- Defina metas claras de sustentabilidade e inovação;
- Documente todo o processo para evidenciar as atividades de I&D e facilitar a candidatura ao SIFIDE;
- Conte com parceiros experientes como a FI Group para maximizar os resultados.
Os resíduos e a poluição não existem por acaso, são o resultado de decisões de design. O Ecodesign, aliado ao SIFIDE, oferece uma oportunidade única para as empresas inovarem de forma sustentável, reduzindo custos e aumentando a sua competitividade. Ao investir em projetos desta tipologia, as empresas não apenas contribuem para a preservação ambiental, mas também se posicionam como líderes em inovação, responsáveis pelas suas ações.
Na FI Group, estamos comprometidos em apoiar as empresas a transformar desafios ambientais em oportunidades de crescimento. Fale connosco e descubra como podemos ajudar a sua empresa a liderar a transição para uma economia mais consciente e responsável.
Lurdes Guerra, Climate Change & Sustainability Advisor
Nuno Pereira, Equipa de Benefícios Fiscais
Fontes:
Megatrens Hub, European Comission, www.knowledge4policy.ec.europa.eu/growing-consumerism_en
Macarthur Foundation, www.ellenmacarthurfoundation.org/pt/o-que-e-economia-linear
Compartilhe este artigo com a sua rede de contactos. Explore o nosso arquivo para encontrar conteúdos relacionados e relevantes.