Todos os anos produzem-se 2,5 mil milhões de toneladas de lixo na União Europeia. Por esse motivo, a UE viu-se obrigada a atualizar a legislação relativa à gestão de resíduos para promover a mudança de uma economia linear para uma economia circular.

O que é a Economia Circular?

A Economia Circular é um modelo económico estratégico que visa a coordenação dos sistemas de produção e consumo em circuitos fechados, inclusive na redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais de energia. Um tema que tem sido recorrente nas agendas internacional, europeia e nacional nos últimos anos.

Este modelo surge de modo a combater o conceito de Economia Linear (extração de recursos > produção > consumo > resíduos), que tem causado a extração massiva e a utilização de matérias-primas escassas. Desta forma, a Economia Circular é vista como um elemento-chave para promover a dissociação – até, então, inexorável – entre o crescimento económico e o aumento no consumo de recursos.

Segundo a Agência Portuguesa do Ambiente, as principais estratégias do modelo de Economia Circular incluem: (1) o ciclo de vida dos produtos e dos materiais prolongado, através da sua reutilização, reparação e remanufactura; (2) a produção inteligente, através do desenho de produtos e serviços que eliminam os resíduos e a poluição e que reduzem o consumo de recursos; (3) o consumo consciente e a sensibilização da sociedade para escolhas sustentáveis e para a redução do desperdício e (4) a restauração e renovação de recursos e dos serviços ambientais.

Na prática, a economia circular implica a redução do desperdício ou dos resíduos ao mínimo. Quando um produto chega ao fim do seu ciclo de vida, os seus materiais são mantidos dentro da economia sempre que possível graças à reciclagem. E podem, então, ser utilizados uma e outra vez, o que permite criar mais valor.

Benefícios da Economia Circular: um catalisador para a competitividade e inovação

Proteção do Ambiente

Ao dar novo uso a produtos e materiais, a reutilização e a reciclagem diminuem a necessidade de extrair recursos da natureza. Isso contribui para a preservação de minérios, água, madeira e outros recursos finitos, garantindo a sua disponibilidade para as próximas gerações.

De facto, a Agência Europeia do Ambiente estima que a indústria e o consumo de produtos são responsáveis por 12,42% das emissões de gases de efeito estufa na UE, enquanto a gestão de resíduos representa 3,9%.

A chave para uma economia circular reside, então, na criação de produtos desde o início, com foco na eficiência e na sustentabilidade. Mais de 80% do impacto ambiental de um produto é determinado durante a fase de projeto. Ao adotar práticas de design ecológico, as empresas podem reduzir significativamente o consumo de energia e recursos durante todo o ciclo de vida do produto.

A transição para uma economia circular exige ainda um esforço conjunto de empresas, governos, consumidores e universidades. As empresas devem repensar os seus modelos de negócios, os governos devem criar políticas públicas que incentivem a circularidade, os consumidores devem fazer escolhas conscientes e a academia deve fornecer pesquisa e inovação para impulsionar a mudança.

Redução da dependência de matérias-primas

O crescimento populacional global impulsiona um aumento exponencial na demanda por matérias-primas. No entanto, a oferta de recursos cruciais é finita, criando um desequilíbrio entre a necessidade e a disponibilidade.

Esta situação é particularmente preocupante para a União Europeia, que depende significativamente de importações para atender às suas demandas. Segundo dados do Eurostat, a UE importa cerca de metade das matérias-primas que consome.

A reciclagem de matérias-primas surge como uma solução estratégica para mitigar os riscos da dependência externa e impulsionar uma economia europeia mais sustentável e resiliente.

Criação de empregos

A transição para uma economia circular pode ainda aumentar a competitividade, estimular a inovação, incentivar o crescimento económico e gerar empregos. Sendo que redesenhar materiais e produtos para uso circular também pode impulsionar a inovação em diferentes setores da economia.

A implementação de práticas circulares na economia europeia tem o potencial de criar cerca de 700.000 novos postos de trabalho até 2030.

Economia Circular na Europa

A Comissão Europeia apresentou, em 2020, o Plano de Ação para a Economia Circular – um dos pilares do Pacto Ecológico Europeu – que visa uma conceção mais sustentável dos produtos, a redução dos resíduos e a capacitação dos consumidores.

Neste plano é dada especial atenção a setores com utilização intensiva de recursos, como o da eletrónica e das TIC, os plásticos, os têxteis e a construção.

Economia Circular em Portugal

O Plano de Ação para a Economia Circular (PAEC), em Portugal, define uma estratégia nacional de ações a serem desenvolvidas, alinhadas com as políticas europeias, nomeadamente o PAEC da UE. O Plano vai de acordo com os compromissos que o país assumiu a nível internacional com o Acordo de Paris, com a Estratégia de Política Industrial da UE e com a Agenda 2030 da ONU.

Este plano define as ações a três níveis:

• Ações transversais, que consolidam ações de várias áreas governativas para esta transição
• Agendas sectoriais, sobretudo para setores mais intensivos no uso de recursos e de cariz exportador
• Agendas regionais, a adaptar às especificidades socioeconómicas de cada região

Em suma, a transição para uma economia circular trata-se de uma profunda mudança na forma como produzimos, consumimos e gerenciamos recursos.

Ao abraçar os princípios da economia circular, podemos criar um futuro mais próspero e sustentável para todos, com geração de empregos, impulsionamento da inovação, economia para os consumidores e, acima de tudo, a preservação do meio ambiente para as próximas gerações.

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